Bethe "Pitbull" Correia é a brasileira que terá a chance de destronar a atual lutadora mais temida do mundo, a campeã peso-galo feminino do UFC, Ronda Rousey. O combate - que a desafiante classifica como "pessoal" - está programado para a luta principal do UFC 190, marcado para este sábado, na HSBC Arena, no Rio de Janeiro. Mesmo antes do encontro ser marcado, as lutadoras já trocavam farpas através da imprensa, o que foi apenas se intensificando ao passar do tempo. Embora seja considerada zebra, a paraibana de Campina Grande, radicada em Natal-RN, possui uma confiança elevadíssima, e, em um longo bate-papo com a PVT Mag de julho, mostrou-se confiante para o maior desafio dentro do octógono. Dentro, pois, fora dele, Bethe teve que superar adversários bem complicados, como a reprovação da própria família e o término do casamento em função do MMA. Além disso, ela garantiu que as provocações não são da boca para fora e avisou a rival: "aproveite seu último mês como campeã".
Como vem a Bethe Pitbull para esta importante luta?
Estou preparadíssima, me sentindo mais forte do que nunca, mas confiante do que nunca. Fiz um grande trabalho, tive o apoio da minha família, dos meus parceiros de treinos, dos meus treinadores. Pensaram em cada detalhe para me preparar. O plano já está traçado, falta agora ajustar o peso apenas.
Meu camp foi todo em Natal, cidade que eu escolhi para morar e treinar, onde eu me descobri como lutadora, terra da minha equipe Pitbull Brothers, e tive a ajuda do meu treinador de boxe Edelson Silva, Mario na preparação física e Tourão no Kickboxing. Então, estou super preparada.
Meus parceiros de treinos são incríveis. Tem o "Língua Presa", o Israel, que é meu parceiro de treinos desde que eu cheguei aqui; tem o "Judoca", que é o Vitor, um parceiro fera no judô, faixa preta; Eliezer, que também é do judô e veio de Campina Grande-PB para me ajudar; o Pacato, que também é um parceiro das antigas e está afiando o meu muay thai, adaptando ao jogo da Ronda. Isso sem falar dos meus parceiros que me incentivam muito e que me descobriram para o MMA, que são Patrício e Patricky Pitbull, que me apoiam e treinam comigo, além do Valdo que também está me ajudando.
O que você e sua equipe prepararam para a Ronda?
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Em relação ao jogo da Ronda, primeiramente eu tive que fortalecer o meu, evoluir no que eu já sou boa. Lógico, estou preparado para as quedas, para o chão, não estou preocupada em cair, e mão na cara. Tanto eu quanto ela queremos trocar. Vai ser uma luta baseada em socos e chutes. Vou lutar com inteligência, não vou errar, sei que é uma luta muito importante para o país, para a minha família. Vou ser agressiva como sempre, mas, se observarem, eu sou muito calma no octógono e não entro em desespero em situações difíceis, e é essa Bethe aí que vai entrar no octógono, a Bethe que sabe se sair em qualquer situação.
O que você tem a oferecer a Ronda que as adversárias anteriores não ofereceram?
Vou apresentar para a Ronda uma coisa que ele nunca deve ter levado na vida: um soco que irá fazer ela sentir dor, chorar de dor. Vou aplicar o primeiro nocaute da história do UFC.
O que as pessoas mais falam para você quando te abordam na rua?
Engraçado que, desde que a luta foi anunciada, e acredito que será assim até o dia da luta, o que as pessoas mais me pedem é "Bethe, arranca a verruga dela; Bethe, traz a verruga dela para mim; Bethe, me dá a verruga dela de presente" (risos). A galera realmente está torcendo para que o soco entre ali. E eu prometo a todos que vou arrancar a verruga dela. É incrível a quantidade de pessoas que me pedem isso.
Muita gente aponta uma vitória sua como uma "missão impossível". O que você pensa sobre isso?
Eu sempre fui tida como zebra, até pelo fato de eu ter começado tarde no MMA, aos 28 anos, então pessimismo eu escutei de tudo que é lado, assim como julgamentos, críticas, então sou extremamente acostumada com isso, com pessoas negativas tentando me colocar para baixo, e isso não me incomoda, pois a minha fé é maior do que tudo isso, e eu luto por quem acredita em mim, e tem pessoas ao meu redor que acreditam em mim, me dão força e é por eles que eu luto.
O que mais te incomoda na Ronda?
A Ronda fala muita besteira. Ela é uma falastrona nata e ganhou destaque no MMA de tanta porcaria que ela fala e vem falando. O que realmente me incomodou muito foi ela ter dito que irá me humilhar na minha casa, na minha terra. Só que eu não deixo ninguém entrar na minha casa para me humilhar, eu protejo. Ela também disse que eu terei um encontro com Jesus, e eu achei isso uma ofensa, pois não se deve falar de Deus assim, utilizar o Todo Poderoso nesse momento e ela vai pagar por isso no dia 1º de agosto. Ela também é covarde, pois gosta de se fazer de vítima, e todo mundo sabe que ela não é. Todo mundo sabe que a Ronda não é uma mocinha, uma anjinha, e ela quer que pensem que eu sou malvada. Ela utiliza a tragédia familiar dela, do pai ela, contra mim. Em nenhum momento eu citei o nome do pai dela. Se em alguma entrevista eu falei do pai dela, eu abdico dessa disputa de título, pois tenho certeza que eu não falei. Ela se ofendeu porque eu falei que ela tem o psicológico fraco e que, como ela vai perder para mim, que ela não se matasse. E ela usou isso para se fazer de coitadinha, que é o que ela mais faz, usar a mídia para crescer. Comigo isso não funciona. Colocar a mídia contra mim, fazer acusações, isso não funciona contra mim. Agora é pessoal mais para mim do que para ela. Eu não deixo ninguém usar meu nome, me fazer parecer uma pessoa má sem ser. Em nenhum momento eu falei de família, pois família para mim é sagrado e todos sabem disso. Então eu vou dar a lição para ela no dia 1º de agosto. Sou uma mulher de atitude, sou guerreira e assumo o que eu falo, e falo na cara dela.
Se arrepende de alguma coisa dita?
Não me arrependo de nada do que eu falei para a Ronda, assim como não me arrependo de nada do que eu já tenha feito. Se voltasse atrás, eu faria de novo e talvez até mais. Qualquer coisa que eu faço eu assumo.
Como você acha que será o comportamento da torcida na arena?
Acredito na torcida brasileiro a meu favor. Sei que a Ronda tem fãs pelo mundo todo, inclusive no Brasil, é típico da campeã, ela é uma das pioneiras no MMA, tem carinho do mundo todo, então vai ter gente torcendo por ela. Mas eu sei que quando o cinturão vir para mim, todos os brasileiros ficarão orgulhosos e me aplaudirão. Tenho certeza que a maior parte da torcida estará gritando o meu nome no dia da luta.
Preparou alguma música especial para mexer com o patriotismo da torcida?
Geralmente eu gosto de entrar com a música "Titanium", do David Guetta, que conta um pouquinho da minha história de atleta, tudo o que eu passei, enfrentei, parece muito com a minha trajetória. Claro, eu posso mudar, mas até o momento é essa.
Quando fecha os olhos, como você imagina que será a luta e o que o Bruce Buffer irá anunciar ao final dela?
Como é uma luta que vai além do âmbito esportivo, também é algo pessoal, sãos duas lutadoras que não querem perder a invencibilidade, duas mulheres ambiciosas que querem ser a número um, eu vejo que será emocionante. Mas me vejo nocauteando a Ronda, comemorando e o Bruce Buffer falando: "a nova campeã é a Behe Pitbull Correia".
O que você falaria para a Ronda se ele estivesse agora na sua frente?
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Eu diria para ela aproveitar o último mês dela como campeã.
As provocações realmente são pessoais?
Hoje nossas desavenças são extremamente pessoais. Ela falou coisas que me ofenderam e se sentiu ofendida com algumas coisas que eu falei também. Será uma luta esportiva porque cumpriremos regras. A gente vai seguir a diplomacia do UFC, mas a gente tem um acerto pessoal para resolver, e será definido por quem terminar com o cinturão. Eu falo que sou melhor do que ela e vou provar isso no dia da luta. Ela vai tentar provar o dela. Houve ofensas de ambas as partes, agressões de ambas as partes, então não tem como ser uma luta apenas pelo título, é uma luta pessoal.
Em caso de uma vitória sua, o provável é que o UFC marque uma revanche imediata.
Depois que eu pegar o cinturão pode vir qualquer uma. Se o UFC quiser uma revanche, eu luto, se quiser outra pessoa, eu luto também. Eu nasci para ser campeã e para lutar contra qualquer uma.
O LADO PESSOAL DE BETHE PITBULL
Você está noiva do seu treinador de boxe. Conta para gente como começou essa relação e como fazer para separar o pessoal do profissional.
Estou há um ano com o Edelson, hoje somos noivos. Conheci Edelson em um seminário de boxe, de lá surgiram as paqueras, ele passou a ser meu treinador, foi conquistando meu coração e a gente está junto.
A gente sabe separar. Quando estamos no tatame eu o vejo apenas como professor. Lógico que a intimidade faz com que eu tenha liberdade para falar um pouco o que estou sentido, mas o Edelson é muito severo e eu acho que ele é mais carrasco para mim do que para os outros alunos dele. Sabemos separar. Dentro de casa mistura um pouquinho, pois somos lutadores, vivemos disso, e a gente acaba falando de luta em casa. A gente fala de luta quase que o dia inteiro praticamente (risos).
O Edelson viajou muito com o Anderson Silva para lutas importantes. Até que ele te passa essa experiência que ele teve com o ex-campeão?
Às vezes ele me vê em situação igual a que ele já viu o Minotauro ou o Anderson Silva, e ele me diz como cada um agiu e se foi melhor ou foi pior. Eu tento ouvir. Às vezes a ansiedade tampa os ouvidos, mas eu procuro sempre escutar o que ele tem a me dizer.
Quem manda na casa?
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Depende. A gente entra em um consenso. Tem coisas que eu não gosto que ele faça que eu peço para ele não fazer e tem coisas que ele não gosta que eu não faço. Mas tudo é muito equilibrado, a gente se da super bem (risos).
Como ele age diante do assédio do homens nas redes sociais?
Quando se gosta é normal ter ciúme (risos). Mas eu me orgulho por ele confiar em mim e confiar nele mesmo. Nossa relação é de cumplicidade e ele é bem tranquilo quanto a isso. Lógico, tem gaiatinhos bem ousados, ms nunca tem confusão. Ele sabe que tem fã que é assim mesmo, que é apaixonado, então ele é bem tranquilo quanto a isso.
INÍCIO, DIFICULDADES E PLANOS PARA A CARREIRA
Quando você decidiu ser um lutadora?
Quando eu decidi ser uma lutadora de MMA, eu sabia que haveria algo grandioso em minha vida. Não foi à toa que eu abri mão de tudo para seguir. Deixei meu diploma de lado, chances de trabalhar na minha área, deixei casamento, vi caras feias, vi meus pais chorando. Para eu deixar tudo isso, é porque eu comecei sabendo que eu estava no caminho certo.
Qual foi o seu maior adversário fora do cage na carreira?
Foi no início, quando eu tive que enfrentar o mundo todo, criticas, tive que convencer a minha família de que aquilo era a minha vida, já que nem existia categoria feminina no UFC ainda, a dificuldade financeira para me manter, a dificuldade da minha academia. Eu treinava em uma sala pequenininha com tatame furado, cheio de buracos. Eu vivia ralando o joelho no chão, cortando. Lutar por um sonho, sem patrocínio, sem nada, só com a minha fé. Realmente foi uma época bem dura.
Pensou em desistir em algum momento?
Teve um momento sim. Foi quando eu rompi com meu ex-marido para virar lutadora. Como eu morava aqui com ele, eu não tinha onde morar, como me sustentar, o mundo todo incrédulo, minha família não me apoiou na minha decisão. Quem me ajudou muito foi o meu treinador Mario Novaes, que me incentivou a não desistir. Ele disse que se algo positivo não acontecesse em seis meses, aí sim eu poderia desistir. Graças a Deus nesse período eu fui chamada para o UFC.
Quando você teve certeza que esse seria o seu futuro?
Eu tive a certeza que eu seria a melhor do mundo, que eu faria história no MMA, quando eu estreei no MMA, na minha primeira luta. Eu sabia que eu ia marcar meu nome no mundo.
Quem mais te ajudou?
Quem mais me ajudou e me ajuda até hoje é o meu anjo da guarda,minha irmã Suzana, que eu chamo de "Chicletinho", pois ela está comigo direto, desde a minha estreia no MMA, e não tem tempo ruim, se eu preciso dela, ela larga tudo para me ajudar. E esse cinturão será mais dela do que meu, pois ela está integrada no meu camp, fica comigo praticamente 24 horas por dia.
O que alegra a Bethe quando não está em camp?
Meu lazer é praia. Praia me energiza. Ver minha família, ir para Campina Grande, sentir o calor do Nordeste, o forró da paraíba que é gostoso demais, e, para relaxar, assistir a um filme no cinema. Não há nada melhor.
Como você se vê daqui a 20 anos?
Me vejo invicta. Lógico, não vou estar mais lutando, mas me imagino campeã mundial, me aposentando invicta, e ajudando a fazer grandes campeões. Quero fazer grandes coisas para o esporte.
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